Frei João de Borba da montanha expendeu ao vigário de Caldelas os fortes sintomas que marta apresentava de estar possessa. Eram muitos, e bastava-lhe citar os seguintes:
Ouvir a voz de José dias que a chamava, no sonho e na vigília. E mostrava o texto: quando patiens audit quasdam voces se vocantes. Porque aborrecia a carne e o pão, e tinha grande fastio. O Osório lembrava-lhe que seriam enojos peculiares da gravidez; mas o varatojano confundia-o com o latim. Quando quis non potuit gustare panem aut cantem. Ela digeria com muita dificuldade os alimentos. Era obra do diabo, porque o livro dizia - bem vê - mostrava frei João ao padre Osório: quando quis sanus cibum digerere non potest in stomacho. Chorava e não dizia porque chorava. Diabrura com toda a certeza: - quando lacrymas plorat et nescit quid ploret. Havia um artigo que acentuava as mais fortes presunções da obsessão íncuba de marta. Parece que ela no confessionário se acusava de repugnâncias, de concessões violentadas, de resistências às carícias do esposo: e talvez revelasse que a imagem de José dias intervinha nessas lutas da alcova. É o que se depreende do sinal décimo terceiro que frei João mostrava com o dedo no seu brognolo, e vai em latim, como lá está, para que poucas pessoas possam alegar inteligência: - quando vir uxori et uxor viro apropinquare non potest, quia videt aliud corpus intermedium, aut sibi videtur esse.
- Aqui é onde bate o ponto! - dizia frei João martelando com o dedo indicador na página indecente.
- Mas não será essa visão o introito de uma alienação mental? - perguntava o de Caldelas.
- Não vê, padre João, que esta rapariga está abatida por uma grande amargura que prende com actos da sua vida passada? Não a vê tão caída, tão melancólica.