D. Teresa encarou-a com uma grande piedade, porque se convenceu então que estava perdida.
O Feliciano, quando ela se fechava no quarto, já sabia que estava a preparar-se o ataque; ia dormir noutra cama; necessitava do seu repouso, dizia ele; tinha de erguer-se cedo para ver o que faziam os jornaleiros, e não podia perder as noites. Como o arrependimento de se casar já o mortificava, evadia-se às irremediáveis apoquentações, olhando egoistamente para o seu bem - estar, e lembrando-se às vezes que, tendo uma mulher assim doente, não lhe seria muito desagradável ficar viúvo. Não obstante, como, passado o ataque epitético, a esposa recaia numa serena indolência, numa impassibilidade mansa e tranquila, o tio ia dormir com ela, tendo sempre em vista as condições do seu bem-estar, as necessidades imperiosas da sua fisiologia. Assim se explica a fecundidade de marta, que deu em sete anos cinco filhos ao seu marido. O médico já tinha explicado satisfatoriamente ao padre Osório que a demência de marta era funcional, e as qualidades reprodutoras não tinham que ver com as anormalidades cerebrais. A providência não teve a bondade de fazer estéreis as dementes.
Entretanto, aos três dias precedentes às crises epiléticas, parece que o marido lhe era repulsivo. Dava-se então a revivência de José Alves, o seu amado saia do sepulcro, e transportava - a nas suas asas de anjo ao paraíso de Prazins. D. Teresa, colando o ouvido à fechadura da porta, ouvia-a conversar como em diálogo, ficar silenciosa, depois de uma interrogação, por largo espaço de tempo; vinha de mansinho à porta espreitar que a não escutassem. Dizia palavras confusas, abafadas, cariciosamente proferidas, como se tivesse os lábios postos em contacto de um rosto amado. O nome de