José realçava com uma nitidez jubilosa, com uni timbre de meiguice infantil; e às vezes, um grito em esforçado desespero como se ele se lhe desatasse dos braços para lhe fugir, um espiritista da escola de Kardec tiraria desta loucura um argumento a favor das manifestações visíveis, em que o fluido, o perispírito se apresenta semimaterial, com as formas vagas do corpo, quase tangível ao medium.
O Feliciano ignorava estas cenas extranaturais. Ele; ao sexto ano de casado, encouraçara - se num impenetrável egoísmo de avarento, cortando fundamente por todas as despesas que em vista da sua grande fortuna se reputavam sovinarias. A medicina já o considerava lunático, mais ou menos infecionado da alienação da mulher: e a loucura que é se não a exageração do carácter? Porque o viam às vezes atravessar os seus pinhais, com o monóculo, gesticulando, e falando sozinho, chamavam-lhe doido. Errada hipótese do vulgo ignorante. Ele fazia operações aritméticas em voz alta como os velhos poetas inspirados faziam madrigais numa declamação rítmica ao ar livre e ao luar. O certo é que ninguém o apanhava em intervalo escuro para o defraudar num vintém. Comprou, umas após outras, todas as quintas que foram do vasco Cerveira lobo, de quadros; umas à viúva, e outras aos filhos. A D. Honorata guião, casada em segundas núpcias com o desembargador do ultramar Adolfo da Silveira, veio à metrópole assim que viuvou para se habilitar herdeira de metade do casal não vinculado do tenente-coronel. Os filhos Egas e Heitor, sabendo que a sua mãe estava nos pombais, com o marido e filhos, tentaram escorraçá-la com ameaças e insultos, atirando-lhe tiros à janela. O magistrado fugiu com a sua família e acompanhou com força armada os actos judiciais. Afinal, Honorata,