vendeu a sua parte, ao desbarato, ao brasileiro Prazins; e o morgado, vendido o seu património desvinculado, e mais o irmão, vergonhosamente casados, esfarrapam hoje o resto da torpe existência na tavolagem das tavernas. As filhas salvaram-se do naufrágio agarradas às pranchas dos seus dotes. Arranjaram facilmente maridos que desempenharam os seus casais e as sovavam de pontapés injustos e extemporâneos, quando se lembravam dos engenheiros do conde de Clarange Lucote.
A brasileira de Prazins tem hoje cinquenta e três anos. Os seus vizinhos que contam trinta anos, nunca a viram, porque ela, desde que, em 1848, morreu D. Teresa, nunca mais saiu do seu quarto. Já ninguém a vai escutar; mas repete as mesmas palavras do seu amor de há quarenta anos, pede que lhe levem flores, tem as mesmas alucinações, e - o que mais é - ainda tem lágrimas, quando, nos intervalos dos delírios, entra na angustiosa convicção de que José dias é morto. O padre Osório ainda a procura nesses períodos de razão bruxuleante e fala-lhe da irmã por sentir a inefável amargura doce de se ver acompanhado nas lágrimas. Mas o padre diz que nunca pudera ver nitidamente a linha divisória entre a razão e a insânia de marta. Depois do delírio, sobrevém a monomania hipocondríaca. A alma continua a dormir sem sonhar, sem as alucinações. Nessa segunda crise de torpor, ele e só ele é admitido ao seu quarto, depois de esperar que desça da cama ou se embrulhe num xaile para encobrir a sordidez do corpete dos vestidos. Este xaile é uma cintila resistente de instinto feminil que raras vezes se apaga no comum das dementes, exceto no maior número das histéricas com erotismo.
Marta tem duas filhas casadas e já mães. Às temporadas, vestem serenamente os seus trajes domingueiros e vão para casa dos pais, onde continuam na sáfara dos campos a sua lida de solteiras.