O pai educara-as na lavoura de pé descalço, e sachola nas unhas. Trabalham nas lavras com uma grande alegria e garganteiam cantigas muito frescas. E os maridos, cheios de bom senso, já as não procuram. Quando regressam, recebem-nas sem as interrogarem; porque, se as afligem, dão-lhes vágados e choram. Nos outros filhos entanguidos, escrofulosos, tristes e sem infância, predomina a diátese da imbecilidade e a falta de senso moral, que é uma espécie patológica menos estudada dos alienistas. Entre estes filhos há um que estudou para clérigo. Passava por ser o mais escorreito. O pai achava-lhe talento. Estudou seis anos latim, em braga, debaixo das mais rigorosas violências à sua incapacidade; e quando Feliciano, pródigo de dinheiro para este filho, e desenganado pelo professor, o mandou buscar com três reprovações, ele trazia numa caixa de lata cinco mil e tantas hóstias com que se prevenira para as suas consagrações de sacerdote. E o pai foi tão feliz que pôde vender as hóstias com o pequeno prejuízo de dez por cento.
- Aí tem o brasileiro de Prazins, se nunca o viu - dizia-me há três meses o padre Osório. Mostrando-me no mercado de Famalicão um velho escanifrado, muito escanhoado, direito, com o monóculo fixo, vestido de cotim, com um guarda-pó sujo, esfarpelado na abotoadura, e uma chibata de marmeleiro com que sacudia a poeira das calças arregaçadas. - tem 84 anos - continuou o vigário de Caldelas - veio a pé da sua casa, que dista daqui légua e meia, janta um vintém de arroz, bebe outro vintém de vinho, tem quinhentos contos, e volta para sua casa a pé, através ou pouco menos das suas catorze quintas. Com a frugalidade, com o exercício e com o seu egoísmo sórdido viverá ainda muito tempo, porque o velho Alexandre dumas disse que os egoístas e os papagaios viviam cento e cinquenta anos.