O egresso pacificava-o; que deixasse lá a rapariga e mais o estudante; que se fosse preparando para desembainhar a espada do seu pai em defesa do trono e do altar. E o major:
- Estamos chegados a elas, Zeferino.
E o pedreiro, esfregando as mãos coriáceas, que rangiam como duas lixas friccionadas:
- A eles, senhor padrinho! A espada vai-se amolar vou pedi-la ao velho!
O pai de Zeferino, o Gaspar das lamelas, tinha sido alferes do 17 de linha; e, em 1834, como o perseguissem os liberais do concelho por pancadaria e testemunhos falsos nas devassas de 28, andou foragido alguns meses.
Sequestraram-lhe os bens; e o filho, que já era muito barbado e não tinha modo de vida, fez-se pedreiro. Depois, aplacadas as fúrias dos vencedores e restabelecida a justiça, restituíram ao Zeferino as terras devastadas. O ex-alferes saiu do seu esconderijo, e recolheu-se a casa com a espada muito cheia de verdete, dizendo que havia de lavá-la no sangue dos malhados. Em 1838, dia de natal, embebedou-se despropositadamente e saiu para a rua a dar vivas ao Sr. D. Miguel. Outros piteireiros, do mesmo credo, afetos às velhas instituições, responderam aos vivas com um entusiasmo homicida. O Gaspar foi buscar a espada, cingiu a banda sobre a niza de saragoça, pôs a barretina com os amarelos muito oxidados, e, à frente de um grupo de jornaleiros e garotos, caminhou para a cabeça do concelho a fim de oferecer batalha campal às autoridades. Além da espada do caudilho, havia na jolda três espingardas reiunas; o restante eram foices de gancho encavadas em grossas varas. Um porqueiro colossal floreava uma lâmina brunida da faca de matar os cevados. A guerrilha, já engrossada por outros bêbedos encontrados nas tabernas do trânsito, chegou à porta do morgado de barrimau, e a clamorosos brados elegeram-no general.