- Fiem? - interrompeu o Cerveira.
- Muito bem - e prosseguiu lendo:
Muitas vezes me lembrou no desterro de onze anos o vosso nome, porque não podia esquecer o de um amigo que tão de perto conheci e tanto me acompanhou nas alegrias da minha mocidade.
- Eu não lhe disse, padre, que o rei e mais eu tínhamos feito pândegas rasgadas quando éramos rapazes?
- Sim, senhor, v. Exa tinha-mo dito.
- Ora aí tem, eu nunca minto. Ah! Que bambochatas! - e recordava-se com os olhos num espasmo entre a saudade e as iniciativas da borracheira.
- Continuo, se v. Exa permite.
- Ande lá; quem te viu e quem te vê, Cerveira lobo! - disse com tristeza, muito abatido.
Padre rocha encarava-o com piedade, sentia ânsias de abraçá-lo, e dizer-lhe:
“Regenere-se!”
- Ande lá. Leia, que o melhor está para baixo.
Logo que cheguei a Portugal chamado por amigos de primeira ordem e fui para aqui enviado, perguntei se ainda éreis vivo. Alegraram-me com a resposta; mas delicadamente me obrigaram a não escrever a alguém, enquanto o triunfo infalível da minha justiça dependesse de certas negociações, pendentes entre as nações da europa e o meu ministro em Inglaterra, o ribeiro saraiva, que muito bem deveis conhecer de nome. Tenho eu sido violentamente acusado pelos meus próprios amigos de ter sacrificado os meus direitos aos meus caprichos, submeti-me às deliberações da junta de lisboa e por isso vos não escrevi para vos abraçar e chamar para meu lado.
O Cerveira começou a soluçar com a cara coberta de lágrimas, que destacavam no rubor da epiderme.
- Então que é isso? São lágrimas de alegria? - perguntou o padre. - se são, deixe-as correr.
- Qual alegria! Estou velho.., já não posso fazer nada a favor de el-rei. Este pulso.. - e retesava o braço.