O padre assustava-se. - ora leia para baixo, que está aí uma passagem muito bonita.
Nunca me esqueceu nem jamais esquecerá que éreis o tenente-coronel dos meus queridos dragões de chaves; que fostes vós o comandante da carga solene que sofreram as tropas liberais numa das primeiras surtidas do porto; e que fostes traiçoeiramente arrastado pelo infame general urbano quando com outro infame, o coronel Albuquerque, fizeram acabar desonrosamente na chamusca os últimos esquadrões do regimento de chaves. Mas vós, honrado Cerveira, ficastes ileso da ignominia geral, porque rejeitastes o perdão e dissestes que éreis um prisioneiro de guerra, e aceitáveis as consequências da vossa posição.
- Foi assim! - exclamou o Cerveira erguendo-se de salto. - o Saldanha era meu capitão quando eu era cadete; conhecia-me. Mandou-me chamar à sua presença; que me fizesse liberal, e me entregavam a minha espada; e eu (batia duramente no peito com as mãos ambas), eu, padre, eu, aqui onde me vê, disse-lhe que levasse o diabo a espada para as profundas dos infernos; que a minha espada tinha-me dado o Sr. D. Miguel I, e que ele me daria outra, quando fosse precisa. Ficaram estarrecidos; e o patife do Saldanha, que tinha sido um realista de todos os diabos, quando era o gajo da isabel maria, chamou-me estúpido. E eu, vai não vai, estive a mandá-lo...
Disse o resto. O padre riu-se, e pediu-lhe licença para continuar a leitura, porque se chegava a hora de ir dizer a missa.
- Ande lá.
Desgraçadamente o vosso heroísmo e amor à minha causa legítima não foi muito imitado. Eu perdi a coroa, mas a perda maior foi a de amigos como vós, bem poucos, mas que valem um remo.
- Torne a ler esse bocado que é coisa muito profunda, ó padre rocha.
Fez-lhe a vontade.