A criada demorava-se a procurá-la, a fingir; e o sargento:
- Se se demora, ó santinha, vai dentro a porta! Ó 24, vai buscar um machado que eu ali vi na cozinha. Salta um machado!
- Não é preciso, camarada - acudiu o abade. - aqui está a chave. Eu abro. Entrem, procurem à vontade.
O sargento parou à porta a familiarizar-se com a escassa luz da adega:
- Ó padre! Isto aqui é que é a sala do trono? Ou é o subterrâneo da inquisição? Mande lá acender uma candeia, se não tem um archote.
- Ó mulher, traz daí uma placa acesa - disse o abade marcos, contrafazendo o seu terror.
E o homem, lá dentro atrás das pipas, tiritava como Heliogábalo na latrina, seu derradeiro refúgio.
A senhorinha entrou adiante com a placa, um luzeiro mortiço de sebo com morrão que parecia condensar mais as trevas da lôbrega caverna.
- Arranja aí um fachoqueiro de palha, ó 14! Que raio de placa você cá traz, mulher!
- É enquanto não pega bem a torcida - explicou a criada, caminhando atrás do padre para o lado oposto ao esconderijo. Com deito, a claridade difundia-se, mas tão devagar que ninguém diria a velocidade que os naturalistas marcam a um raio de luz. Os soldados batiam com os nós dos dedos nos tampos das pipas, que toavam o som abafado de cheias.
E o 14:
- Ó meu sargento, o tanso do abade casca-lhe rijo no verdasco! Estão cheinhas! - e apontando para as duas pipas vazias do canto, o sargento perguntava se o vinho daquelas já lhe tinha caído na sacristia - e dava piparotes na barriga do padre.
O abade tinha uns sorrisos pálidos, comprometedores como uma denúncia. O 24 escutava e dizia que a modos que ouvira mexer coisa atrás das pipas.
- Há de ser ratos - conjeturou o abade, trémulo, engasgado.
- Palpa com a baioneta por trás das pipas, ó 24! - disse o sargento.