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Capítulo 16: CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO!

Página 107

A casa da Reboliça distava do incêndio três quartos de légua. Ao entreluzir da manhã, Eugénia, marido e cunhados ainda contemplavam os rolos denegridos de fumo, relampadejando a espaços uns vasquejos arroxados. Da velha torre solarenga, onde tinham subido, viam os diferentes caminhos convergentes ao espaçoso terreiro da casa, e num deles enxergaram dois vultos a cavalo.

- Vem gente acolá... - disse Eugénia.

- É verdade - confirmou o marido. - Lá vem uma mulher... não te parece?

- Tem jeito disso.

- É provavelmente o filho do Silvestre e mais a mulher, que vêm fugindo. Vou ao portão.

- Vou contigo - disse Eugénia.

Quando abriram a porta, já Ricardina descia das andilhas amparada nos braços do padre que a acompanhava.

- Ah! - exclamou a esposa de Luís Pimentel, reconhecendo a irmã. - És tu, Ricardina? Donde vens! Como estás aqui, desgraçadinha!?

A interrogada não respondeu nem se lançou nos braços da irmã, que parecia obedecer ao amoroso impulso de abraçá-la. Manteve-se imóvel, com os braços caídos, e os olhos no chão a borbulharem lágrimas. A palavra desgraçadinha, proferida pela sua irmã, soou-lhe como insulto contrafeito em piedade.

- Ricardina! - disse Eugénia, tomando-lhe as mãos frigidíssimas. - Não me respondes? Donde vens?

O padre entremeteu as suas explicações:

- Esta senhora - disse ele em conclusão de comprido aranzel - na minha casa não estava segura, se o pai soubesse que lá parava. Vossas Senhorias bem sabem - prosseguiu voltado para Luís e para o velho irmão de Clementina - que o Sr. Abade de Espinho não é homem de meias medidas, e melhor é ter por inimigo o Diabo e não ele. Era capaz de mandar-me arrasar a casa, à conta de eu recolher esta senhora... Enfim, acompanhei-a até aqui. Não pode estar em melhor casa e em melhor companhia.

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pág. 107 (Capítulo 16)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 107

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177