- Matilde - Rua de S. Francisco, nº 6, Lisboa.
- Vê esta carta, Alexandre... - dizia D. Ricardina ao filho, na volta da Biblioteca.
- Uma carta! É a primeira que lhe vejo receber! Quem conhece minha mãe em Portugal?
Leu, refletiu e disse:
- Quer que lhe saiba quem é esta Matilde?
- Olha cá, meu filho, não te lembras, há seis anos, aquele teu condiscípulo de Viseu contar-te uma história de uma Matilde, que casou com um visconde?
- Lembra-me pouco mais ou menos dessa história; mas nem sei se era Matilde a mulher, nem encontro parentesco nenhum dessa viscondessa da Beira com esta Matilde que lhe escreve.
- Tens razão... - obtemperou a mãe - , tens razão; mas, outra coisa, meu filho, fala-me verdade... Não tens lembrança nenhuma... quero dizer... não terás alguma afeiçãozinha que possa explicar esta carta?
- Eu, minha mãe!... - disse ele cascalhando uma risada. - A minha vida bem a sabe. De dia, leio; de noite, escrevo e durmo. Ninguém conquista corações a lidar com a traça das livrarias dos frades. O deus do amor não ousa penetrar com os seus dardos o arnês das capas encoiradas dos livros que me defendem. Isto, a meu ver... realmente eu não sei o que isto é!... Quer minha mãe que eu vá indagar, não é assim?
- Pois vai logo, meu filho... Sabes tu! Bate-me o coração!...
- É visionária, minha mãe!... Está já a supor que alguma princesa chamada Matilde, e viúva, lhe vem pedir a mão do seu filho!
- Não é isso!
- Pois que maior desgraça lhe palpita! Ainda mais que fazerem-me matrimonialmente príncipe?!... Se lhe parece, minha mãe, jantemos o nosso jantar plebeu e depois romantizaremos à sobremesa.
Instado pela sua mãe, Alexandre foi à Rua de S. Francisco, e passou olhando para os números das portas. A viscondessa reconheceu-o na revolta do Chiado, e escondeu-se incendida, febril de pejo, e doente das convulsões do seio.