Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 25: CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS

Página 159
- Creio tanto que me ama, como creio no seu orgulho. Já tive ocasião de o conhecer...

- Orgulho?! - atalhou Alexandre. - Quererá dizer pundonor de pobre, que é a mais irrisória, se não desprezível, das soberbas? Qual foi o meu orgulho?

- Não sei... A sua memória que lho diga, primo.

Eu que não tive nenhum... Amava-me pobre, Alexandre? Também eu o amei, quando sabia a sua trabalhosa e honrada vida, e lhe não conhecia nome de pai ou mãe. Que me importa? Mas olhe, primo, o que eu sentia não era meu, não era impulso próprio de virtude... Foi Deus que me guiou e deu coragem para escrever a sua mãe. Se Alexandre fosse outro homem, pode ser que eu, se não estivesse perdida no conceito do mundo, o estivesse diante da minha consciência. Mas o que eu fiz, se não obedecesse a um pressentimento providencial, seria próprio do meu carácter? Não, meu primo. Peço-lhe que me não louve nem condene.

O autor da Jurisprudência Hispânica deu férias ao coração, e desairou a ciência dos Bártolos e Cuvarrubias, apertando nos braços sua prima com o virginal estremecimento de que já hoje em dia não há gabar-se donzel de 22 Abris. D. Ricardina chorava de alegria. As faces de Matilde purpurejavam-se, ao mesmo passo que o rir dos olhos estava declarando que o júbilo e o fogo da paixão algumas vezes, por equívoco do colorido, se chamam erradamente pudor.

Há pouco e desnecessário que se diga desde este abraço até às núpcias. Quem disse tudo, naquele ano de 1852, foi a nata social de Lisboa, onde corre que ninguém contende com as vidas alheias. Pois conjuraram as pessoas mais descuriosas em sofismar o parentesco do literato com a viscondessa, anojando-se do inútil e piegas fingimento. Se queriam amar-se e casar-se e delapidar o cabedal do defunto, escusavam de se inventarem primos.

<< Página Anterior

pág. 159 (Capítulo 25)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 159

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177