No dia seguinte, Paulo de Campos anunciou-se ao marido da viscondessa da Gandarela. Foi introduzido numa espaçosa biblioteca, onde, pouco depois, entrou Alexandre. Conversaram largamente sobre variados assuntos. Mostrou o literato a suma dos seus trabalhos já feitos e os vastos apontamentos indiciativos do muito que restava elaborar.
Paulo de Campos, maravilhado, perguntou:
- Que anos tem Vossa Excelência?
- Vinte e dois e alguns meses.
- Quando se formou?
- Em 1850.
- Deve ter estudado prodigiosamente! Acho em extremo temporãs as suas tendências para tão graves estudos! É de supor que a Universidade atual facilite a ciência, mais francamente do que no meu tempo, em que os mais aplicados raro transcendiam os limitados horizontes do compêndio.
- Em que anos frequentou Vossa Senhoria? - perguntou Alexandre.
- De 23 a 28...
- 1828? - atalhou o escritor com veemente interesse. - Então foi contemporâneo daqueles desgraçados que mataram os lentes?
- Sim, senhor.
- Conheceu alguns?
- Quase todos.
- Lembra-se dos nomes?
- Talvez... Conheci o Reis, o Mansilha, o coiceiro, Matos, o Carneiro, e outros.
- Vejo que se lembra dos que morreram enforcados; mas alguns fugiram.
- Assim ouvi dizer.
- Dos que fugiram, conheceu o Moniz?
- Sim, senhor.
A fisionomia de Paulo de Campos resistiu aos movimentos do coração.
- Conheceu-o? Tratou-o pessoalmente?
- Creio que sim... É vivo?
- Nada, não: mataram-no; mas motivos de outra ordem, segundo se conta. Queira dizer-me: Vossa Senhoria nunca pensou na possibilidade de reabilitar a memória desses infelizes doidos?
- Penso que a maior esmola que pode fazer-se à memória deles é esquecê-los. E vossa Excelência julga outra coisa, ou tinha