- Se os prenderem - continuou o padre - , o Governo do Sr. D. Miguel há de saber pagar o serviço que fazem à moral pública, ao trono e ao altar. Os que tiverem crimes serão perdoados, que lho prometo eu, e além de perdoados eu os gratificarei liberalmente.
- Está dito - ulularam os beneméritos das prometidas graças e mercês.
- Nesse caso vão cear, e armem-se.
Retiraram para a cozinha, afora Norberto Calvo, que ficou, obrigado por um aceno que lhe fez o amo.
- Rapaz! - disse-lhe o abade, pondo-lhe a mão no ombro - , entrego-te o comando desta gente. O que ontem dissemos a respeito do Bernardo, torno a repetir-to. Lá tu, como coisa tua, diz aos de Midões que lhe atirem a segurar. O Frazão e o Torto já sabem que a minha vontade é essa. Confio de ti o bom resultado da empresa. Vocês são onze: e eles, além de não serem tantos, nem têm armas nem estão prevenidos. Vai à adega, e distribui aguardente pelos homens, para que vão bem quentes.
- Não é preciso mais nada, fidalgo?
- Mais nada.
- E se os homens quiserem roubar a casa?... Vossa Senhoria bem sabe que tudo isto são ladrões de estrada.
- Deixa-os lá: não te importes com isso. Eu não quero saber lá do que eles fazem.
- Mas, enfim, como por aí os têm visto cá em casa de vossa Senhoria... é mau que eles roubem.
- Lembraste bem, homem! O ódio até me cega que não vejo senão a minha vingança... O que eu quero é o sangue do canalha que me roubou a filha do convento e ma reduziu à sua vil condição, entendes?
- Sim, senhor.
- Vê se tens mão dos homens, caso eles queiram roubar.
- Farei o que puder - concluiu Norberto.
Enquanto os da malta ceavam e segredavam entre si uma visita à burra dos Monizes, que eles traziam desde muito de olho, Norberto,