Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE

Página 97
Lembrou o teólogo que se tocasse a rebate na sineta da capela, assim que os salteadores fossem pressentidos. Aprovou-se o alvitre. Acrescentou um velho criado que se incendiassem as medas de palhas que estavam na eira para que as freguesias vizinhas acudissem pensando que era fogo; e argumentavam em pró da sua lembrança dizendo que o povo não acudiria, se soubesse que eram ladrões, e se ficaria a dar tiros lá de longe, socorro que não valia de nada. Pareceu excelente o parecer do criado.

Bernardo encarregou-se de fazer sentinela no ângulo do muro, onde se abria um mirante gradeado sobre o caminho. Por volta da meia-noite, soou-lhe ao ouvido atento uma toada rumorosa de passos e vozes. Deteve-se até divisar os vultos e o lampejar dos cigarros. Acolheu-se então a casa, mandou incendiar as medas e tanger a fogo na sineta da capela. Os salteadores, acaudilhados por Norberto Calvo, estacaram, logo que o rebate e o clarão das labaredas estrugiu e rompeu, simultaneamente.

- Há fogo na casa! - disse Norberto.

- Estamos como queremos! - exultou o Torto. - Eles hão de sair cá fora, e vêm-nos às mãos como coelhos da toca.

- Salta dentro, rapazes! - disse Frazão.

- Tu é que mandas? - perguntou o Calvo. - O patrão deu-me o governo a mim.

- Então que fazes? - disse o temível celerado, apoiado pelos hóspedes do abade.

- Que faço? Estou cá a malucar, que isto não está bom como tu pensas. Daqui a nada está aí povo que se não há de mexer ninguém.

- Isso cá fica pela minha conta - disse um dos sicários de Midões. - Duas balas a cantar-lhe pelas orelhas metem o povo em casa.

- Aqui não há generais nem soldados! - clamou outro da falange em rebelião contra o absolutismo do comando. - Cada qual faça o que quiser; eu vou por aqui.

<< Página Anterior

pág. 97 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 97

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177