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Capítulo 15: CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE

Página 99
- Olha que chefe nos deu o Sr. Abade!

- Estão aqui estão fora da lura - disse o Rolhas inventor do incêndio. - Agora repartam-se vocês pelas portas da casa... Olha como eles perdem tiros! Que bestas! - E notava judiciosamente o de Midões, ouvindo o estampido quase perpendicular, e o chofrar das balas num tanque próximo, onde se espelhavam as labaredas das medas.

O que fizera a zombeteira observação caiu fulminado por um pelouro que lhe vazou o ventre. O tiro não podia ser feito de cima. A pontaria vinha de frente.

- Olha que nos atiram do lado de além! - disse Frazão, apontando para um arvoredo mais entenebrecido aos olhos deles, aproximados das fogueiras.

- Já por ai está povo!

Correram cinco em direção do bosque. Não viram nada. Norberto Calvo internara-se entre uns choupos, a cevar um dos dois canos despejados da sua clavina. Estava contente da pontaria; mas o coração retalhava-se-lhe a cada lufada de fumo que golfava das frestas do palheiro. Pensava ele que Ricardina estava ali; e, no meio dos ímpetos ferozes que lhe saíam à flor da cara em suor de sangue, pedia à Virgem do Céu que salvasse a sua ama.

Já não eram rolos de fumo, senão de chamas, que iam rompendo o sobrado do primeiro andar, estalando os fechais, os bafrotes e o vigamento. Os Monizes e os criados estavam no segundo pavimento, e só repararam do fogo quando a fumarada toldou o ar e lhes ofegou a respiração. As serpentes de lume, já enroscadas nas alfaias do primeiro andar, medravam nas tintas e óleos, crepitando.

Às vezes, pensavam que as portas fendidas a machado abriam fenda ao roldão dos invasores. Enganavam-se. Era o fragor dos móveis a ruírem nas lojas, assim que as traves estalejavam. Os sinos tangiam sem cessar; mas o povo, aconchegado

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pág. 99 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 99

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177