Espreitavam para dentro, para o seu Jeová, até ficarem cegos: depois olhavam para o mundo com os olhos dos vizinhos. Quando os profetas tinham de ter visões, tinham de ter visões assírias ou caldaicas. Pediam emprestados outros deuses para verem o seu próprio, o seu invisível Deus.
A grande visão de Ezequiel, tão largamente repetida no Apocalipse, o que é senão pagã e provavelmente desfigurada por ciumentos escribas judeus? Um grande conceito pagão do Espírito do Tempo, do Kosmokrator e do Kosmodynamos! Se a isto acrescentarmos que o Kosmokrator se encontra entre as rodas celestes, conhecidas por rodas de Anaximandro, ver-se-á onde nos encontramos. Encontramo-nos no grande mundo do cosmo pagão.
O texto de Ezequiel está, porém, irremediavelmente deturpado, deturpado deliberadamente, sem dúvida, por escribas fanáticos que desejavam macular a visão pagã. Trata-se de uma velha história.
Não menos surpreendente será encontrarmos as rodas de Anaximandro em Ezequiel. Estas rodas são uma velha tentativa de explicar o regular porém complexo movimento dos céus. Baseiam-se no primeiro dualismo «científico» que os pagãos descobriram no universo, a saber, o húmido e o seco, o frio e o quente, o ar (ou nuvem) e o fogo.