- Nunca como a si! - exclamou ele.
- Como está a ser criança! Vamos, tenha juízo! Sou eu que quero!
Emma mostrou-lhe as impossibilidades daquele amor e que deviam contentar-se, como antes, com os simples termos duma amizade fraternal.
Estaria falando seriamente? Naturalmente nem ela própria o sabia, obcecada como estava pelo encanto da sedução e pela necessidade de se defender dela; e, contemplando o rapaz com um olhar terno, repelia suavemente as tímidas carícias que ele, com mãos trémulas, procurava fazer-lhe.
- Ah!, perdão - disse ele recuando.
E Emma sentiu-se tomada de um vago terror diante daquela timidez, mais perigosa para ela do que o arrojo de Rodolphe, quando se lhe atirava de braços abertos. Nunca homem algum lhe parecera tão belo. Uma delicada candura ressaltava dos seus modos. Ele baixava as pestanas finas e longas, recurvadas. Ruborescia-se-lhe a macia epiderme do rosto - pensava ela - pelo desejo da sua pessoa, e Emma sentia um invencível desejo de o beijar. Então, inclinando-se para o relógio, como que para ver as horas:
- Meu Deus, como já é tarde! - disse ela. - Isto é que é tagarelar! Léon compreendeu a alusão e procurou o chapéu.
- Até me esqueci do espectáculo! E o pobre Bovary que me deixou cá de propósito! O Sr. Lormeaux, da Rue Grand-Pont, devia levar-me lá na companhia da mulher.
E a ocasião estava perdida, pois ela partiria no dia seguinte.
- É verdade? - perguntou Léon.
-Sim.
- No entanto preciso de a ver ainda mais uma vez - continuou ele.
- Tenho que lhe dizer...
- O quê?
- Uma coisa... grave, séria. Não! além disso, não pode ir-se embora, é impossível! Se soubesse... Escute-me... Mas então não me compreendeu? Ainda não descobriu?..
- No entanto, o senhor explica-se bem - respondeu Emma.