Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 29: VI

Página 311
Não se deve mexer nos ídolos: o dourado fica-nos agarrado às mãos.

Começaram a falar mais frequentemente de coisas indiferentes ao amor mútuo; e, nas cartas que Emma lhe mandava, o assunto eram flores, versos, a Lua e as estrelas, ingénuos recursos duma paixão enfraquecida, procurando reavivar-se por meio de todos os recursos exteriores. Ela prometia a si mesma, constantemente, uma profunda felicidade para a próxima viagem; depois verificava que não sentia nada de extraordinário. Essa decepção apagava-se rapidamente com uma nova esperança, e Emma voltava para ele mais inflamada, mais ávida. Despia-se bruscamente, arrancando o fino cordão do espartilho, que lhe sibilava em volta dos quadris como uma cobra rastejando. Ia mais uma vez descalça, nas pontas dos pés, verificar se a porta estava trancada, depois, com um só gesto, fazia cair todo o vestuário; e, pálida, muda, séria, atirava-se sobre o peito dele, com um longo estremecimento.

Entretanto, havia naquele rosto coberto de gotas frias, naqueles lábios balbuciantes, naquelas pupilas desvairadas, no amplexo daqueles braços, qualquer coisa de excessivo, de vago e de lúgubre, que a Léon parecia meter-se entre ambos, subtilmente, como que para os separar.

Não ousava fazer-lhe perguntas; mas, verificando ser ela tão experiente, pensava ele, devia ter passado por todas as provas do sofrimento e do prazer. O que antes o encantava assustava-o agora um pouco. Além disso, revoltava-se contra a absorção, cada vez maior, da sua personalidade. Não perdoava a Emma aquele triunfo permanente. Até se esforçava por não lhe querer bem; depois, mal lhe ouvia o ranger das botinas, perdia as forças, como os bêbados à vista de bebidas fortes.

É verdade que ela não deixava de lhe prodigalizar toda a espécie de atenções, desde os mimos da mesa até aos requintes da roupa e à languidez do olhar.

<< Página Anterior

pág. 311 (Capítulo 29)

Página Seguinte >>

Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 311

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373