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- Como queres tu... ?
- Até pareces um cobarde! - exclamou ela. Então ele disse estupidamente:
- Estás a exagerar a situação. Quem sabe se com um milhar de escudos o homem não se acalma!
Era mais uma razão para se tentar alguma coisa; não seria de todo impossível descobrir três mil francos. Além disso, Léon podia ficar responsável por ela.
- Vai! Experimenta! Tem de ser! Corre!... Tenta!, tenta! Hei-de amar-te muito.
Ele saiu, voltou ao cabo de uma hora e disse com ar solene:
- Fui a casa de três pessoas... inutilmente!
Depois ficaram sentados um defronte do outro, aos dois cantos do fogão, imóveis, sem dizer nada. Emma encolhia os ombros e batia com o pé. Ele ouvia-a murmurar:
- Se estivesse no teu lugar, garanto-te que encontrava!
- E onde?
- No cartório!
E fitou-o.
As suas pupilas inflamadas irradiavam uma ousadia infernal e sem icerrava as pálpebras dum modo lascivo e incitado r - de tal modo que rapaz se sentiu enfraquecer perante a muda vontade daquela mulher que o aconselhava a cometer um crime. Ele então teve medo e, para evitar esclarecimentos, bateu com a mão na testa, exclamando:
- O Morel deve chegar esta noite! Espero que não me recuse (era um dos seus amigos, filho dum negociante muito rico), e levo-te isso amanhã - acrescentou.
Emma não acolheu aquela esperança com tanto alegria como ele imaginara. Desconfiaria da mentira? Léon prosseguiu, corando:
- Entretanto, se não me vires amanhã às três horas, não esperes mais por mim, querida. Tenho de me ir embora, desculpa. Adeus!
Apertou-lhe a mão, mas sentiu-a completamente inerte. Emma não tinha mais força para qualquer sentimento.
Soaram as quatro horas; e ela levantou-se para voltar a Yonville, obedecendo como um autómato ao impulso dos hábitos.