..
O companheiro adormecera. Depois, como se sentia um pouco sufocar na atmosfera abafada do quarto, abriu a janela, o que despertou o farmacêutico.
- Vá lá uma pitada! disse ele. - Aceite, ajuda a distrair. Ao longe, em qualquer parte, ouviam-se latidos contínuos. - Está a ouvir um cão a uivar? - disse o farmacêutico.
- Dizem que percebem que há mortos - respondeu o eclesiástico.
- É como as abelhas: abandonam o cortiço quando alguém morre.
Homais não denunciou os preconceitos, porque voltara a adormecer. Bournisien, mais resistente, continuou algum tempo a mover os lábios, quase imperceptivelmente; depois, entrando na inconsciência, deixou cair a cabeça, largou o grande livro negro e começou a ressonar.
Estavam um na frente do outro, de barriga espetada, bochechas caídas, ar carrancudo, depois de tanto desacordo, encontrando-se, afinal, na mesma fraqueza humana; não se mexiam mais do que o cadáver que tinham ao lado e que parecia dormir.
Charles, entrando, não os acordou. Era a última vez. Vinha dizer-lhe adeus.
As ervas aromáticas ainda fumegavam e turbilhões de fumo azul confundiam-se junto da janela com o nevoeiro que entrava. Havia algumas estrelas e a noite estava amena.
A cera caía em grossas lágrimas sobre os lençóis. Charles via arder os círios, cansando a vista contra o brilho da chama amarela.
Tremulavam reflexos sobre o vestido de cetim, branco como o luar. Emma desaparecia por baixo dele; e Charles tinha a sensação de que ela se difundia confusamente no ambiente, no silêncio, na noite, no vento que passava, nos odores húmidos que se exalavam.
Depois via-a subitamente no jardim de Tostes, sentada no banco, encostada à sebe de espinheiros, ou então em Ruão, pelas ruas, à porta de casa, no pátio dos Bertaux.