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Capítulo 6: VI

Página 42
Frequentemente, as educandas escapavam-se da sala de estudo para ir procurá-la. Ela sabia de cor canções galantes do século passado que cantava a meia voz, enquanto trabalhava com a agulha. Contava histórias, dava-lhes novidades, fazia-lhes recados na cidade e, às mais crescidas, emprestava, em segredo, alguns romances que trazia sempre nos bolsos do avental e dos quais ela mesmo devorava longos capítulos nos intervalos das suas ocupações. Tratavam só de amores, de amantes, senhoras perseguidas desmaiando em pavilhões solitários, postilhões assassinados em todas as paragens para trocar de animais, cavalos abatidos em todas as páginas, florestas sombrias, perturbações do coração, juramentos, soluços, lágrimas e beijos, barquinhos ao luar, rouxinóis nos bosques, cavalheiros valentes como leões, mansos como cordeiros, mais virtuosos do que aqueles que realmente existem, sempre bem apresentáveis e chorando como urnas. Durante seis meses, quando tinha quinze anos, Emma enxovalhou as mãos na sebenta poeira dos velhos gabinetes de leitura. Com Walter Scott, mais tarde, apaixonou-se por coisas históricas, sonhou com baús, salas de guardas e menestréis. Teria preferido viver nalgum velho solar, como aquelas castelâs de longos corpetes que, sob o trifólio das ogivas, passavam os dias com o cotovelo sobre a pedra e o queixo apoiado na mão, vendo aproximar-se, do fundo do campo, um cavaleiro com uma pluma branca a galope sobre um cavalo preto. Teve nesse tempo o culto de Maria Stuart e sentiu entusiástica veneração pelas mulheres ilustres ou desventuradas. Joana dArc, Heloísa, Inês Sorel, a bela Ferronniêre e Clemência Isaura, para ela, destacavam-se como cometas sobre a tenebrosa imensidão da história, onde ainda sobressaíam, aqui e além, mas mais perdidos na sombra e sem qualquer relação entre si, São Luís com o seu carvalho, Bayard moribundo, algumas ferocidades de Luís XI, um pouco da matança de São Bartolomeu, o penacho do Bearnês e ainda a recordação dos pratos pintados onde Luís XIV era lisonjeado.

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pág. 42 (Capítulo 6)

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 42

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373