Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: IX

Página 71
Não é que tivesse medo da cirurgia; sangrava abundantemente as pessoas, como se fossem cavalos, e tinha um pulso de ferro para arrancar dentes.

Enfim, para se manter em dia, assinou La Ruche médicale, um novo jornal de que lhe tinham enviado um prospecto. Lia um pouco depois do jantar; mas o calor do aposento, juntamente com a digestão, faziam-no adormecer ao cabo de cinco minutos; e ali ficava ele, com o queixo apoiado nas duas mãos e os cabelos soltos como uma crina, quase a tocarem no candeeiro. Emma olhava-o encolhendo os ombros. Não ter ela, ao menos, por marido um desses homens de entusiasmos taciturnos que trabalham de noite nos livros e ostentam, por fim, aos sessenta anos, quando chega a idade dos reumatismos, uma enfiada de condecorações na casaca preta e mal feita. Teria desejado que aquele nome de Bovary, que era o seu, fosse ilustre, se visse nas prateleiras dos livreiros, repetido nos jornais, conhecido em toda a França. Mas Charles não tinha nenhuma ambição! Um médico de Yvetot, com quem tivera ultimamente uma conferência, chegara mesmo a humilhá-lo, à própria cabeceira do doente, diante da família, reunida. Quando Charles lhe contou, à noite, o sucedido, Emma levantou a voz, furiosa contra o colega do marido. Charles enterneceu-se. Beijou-a na testa, com uma lágrima. Mas ela estava exasperada de vergonha e tinha ganas de lhe bater; foi abrir a janela do corredor e respirar o ar fresco para se acalmar.

- Que pobre homem! Que pobre homem! - dizia ela em voz baixa, mordendo os lábios.

Sentia-se, além disso, mais irritada com ele. Com a idade, Charles ia adquirindo certos hábitos grosseiros; à sobremesa entretinha-se a cortar as rolhas das garrafas vazias; depois de comer passava a língua sobre os dentes; quando comia a sopa, fazia barulho de cada vez que engolia e, como tivesse começado a engordar, os olhos, já de si pequenos, pareciam subir-lhe para a testa, empurrados pelas bochechas.

<< Página Anterior

pág. 71 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 71

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373