As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 2: II Pág. 10 / 332

- Pois muito agradecido. Mas dizia eu... custa-me a explicar...

- Com S. Pedro! Fala, homem, dize lá o que tens a dizer.

- É que o rapaz a modo que é fraquito, e então...

- E então, o quê?

- Tenho medo que, estudando de mais, me adoeça por aí, e...

- Mas ele estuda de mais?

- Não, senhor, mas... sim... queria eu dizer que talvez fosse bom que o Sr. Reitor o demorasse menos na aula. Digo eu isto, mas se vir que...

- Sim, sim, mas então... vamos a saber, então ele demora-se muito?

- Não digo que seja muito. Tudo é necessário. Bem sei; mas... quero dizer... Para quem é fraco, como ele... Como sai às duas horas e vem só às trindades... e às vezes é noite fechada...

O reitor ficou como se lhe caíra o coração aos pés, ficou... - diga-se a frase, visto que a autorizou quem podia - ficou desapontado.

Das duas horas às trindades, e à noite cerrada às vezes, quando ele lhe entrava em casa às três e lhe saía pouco depois das cinco! Tinha assim o padre de modificar duplamente o seu juízo - enquanto ao rapaz e enquanto a si - descrendo da conversão do primeiro e do seu próprio poder de catequese. Este sacrifício, em duplicado, custou-lhe e conservou-o por algum tempo mudo. Esteve para contar ao pai a história toda, mas calou-se. Tinha coração generoso afinal de contas, e compreendeu que a revelação iria afligir o velho.

- Tens razão, homem - limitou-se, pois, a dizer. - Tens razão. O rapaz há-de sair mais cedo. Eu olharei por isso. Mais alguns dias só, para chegar cá a um ponto que eu quero, e depois será como dizes.

E lá consigo dizia o bom do padre:

- Deixa estar, meu Danielzinho, que eu hei-de saber para onde tu me vais, depois que te mando embora. Deixa estar, deixa, que me não tornas a enganar, meu menino.





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