Doutor para o ir ver.
- Está bom; lá irei de tarde; e como está tua mãe?
- A mãe diz que está melhor, mas ela chora tanto!
- Tens razão, Manuel, em duvidar da saúde do que chora. Pois eu verei isso. Vá; ide jantar e fazei rir vossa mãe, que é meia cura já.
Por tal forma ia sendo o bondoso João Semana cumprimentado, interrogado e consultado, e ele a responder a tudo com a máxima expedição possível, que já lhe não sofriam delongas as reclamações imperiosas do estômago.
Chegou assim ao largo da igreja da freguesia e atravessou-o, por diante da residência do reitor. Deitou de soslaio os olhos para as janelas da casa paroquial, e, como as visse fechadas, picou a égua, para ver se escapava, sem vir à fala e evitar novos empecilhos.
Não conseguiu, porém, o seu intento. Uma das vidraças correuse repentinamente e o reitor apareceu à janela, animado de sorrisos, e com um guardanapo na mão.
- Ó João Semana! Ó homem! Ó velhote! Pchiu! - bradava ele.
- Que é lá?
- Espera! fala à gente.
- Vou com pressa.
- Então andas por fora com um calor destes? Isto é de criar malignas, homem.
- Que queres tu, Abade? Meu pai caiu na patetice de me arranjar este modo de vida. Se lhe tivesse dado na mania fazer-me padre, outro galo me cantara.
- Cuidas então que não temos canseiras?
- Ai, dão-te muito que fazer as tuas ovelhas; estou vendo.
- E não dão pouco.
- Só a cardá-las com as côngruas e derramas! Por isso estás magro. Para vos sustentar suamos nós outros.
O reitor sorria, sem a menor sombra de ofensa.
- Vamos a saber: queres provar do meu arroz?
- Eu?! Já não tenho estômago criado para comidas de padres.
Padre, abade, e egresso de mais a mais! Safa! Morria de indigestão esta noite.
- Anda lá, anda lá; ainda não perdoaste aos frades.