Esta aparição foi logo seguida das seguintes palavras, muito açucaradas:
- Ouviu, Sr. João Semana? Não vá, sem primeiro subir.
- Pois que há?
- Tenho que lhe dizer.
- Diga então daí.
- Ora essa! Não é maneira de falar a que diz. Suba, se faz favor, suba primeiro.
- Mas esta senhora que espera?
- É um instante só.
- Valha-a Deus! - disse João Semana, apeando-se e preparando- se para obedecer à criada. Já do portal, voltou-se para o mensageiro do recado, dizendo-lhe:
- Espere um bocadinho, que eu vou já.
- Nada, nada - acudiu de cima a criada. - Pode estar fazendo falta às senhoras. É melhor ir, que o Sr. João Semana vai já também.
- Mas... - quis objectar o criado.
- Vá, vá. Basta o tempo que se demorou já aqui, e sem precisão, porque eu cá daria o recado. Diga em casa que o Sr. João está lá num momento.
Isto foi dito com certo tom intimativo, ao qual o criado, habituado a obedecer, não pôde resistir. Partiu.
Logo em seguida, a expedita velha disse, em tom mais baixo, mas não menos imperioso, para o rapaz, que ficou a segurar as rédeas da égua:
- Miguel, avia-te, meu pasmado; mete essa cavalgadura na cavalariça, e anda para cima.
- Mas o patrão...
- Anda, papalvo, faz o que te digo.
E Miguel assim o fez.
Quando João Semana entrou na sala, onde era esperado pela criada, e ia perguntar a notícia prometida, ficou surpreendido, achando a mesa posta e uma enorme malga de sopa, exalando odoríferos e apetitosos vapores.
- Que é isto? Que foi fazer? - disse o velho cirurgião, olhando para a criada, a qual procedia azafamada aos mais preparativos para o jantar. - Então tirou a sopa, e eu tenho de sair ainda.
- Que sair? que sair? Era o que faltava. Não basta o calor que tem apanhado já.