- Dize: não é, não, senhor - ensinou-lhe o pai.
- Não é - repetiu a criança.
- É, é...
- Não é, vossemecê é que...
- Ah! - atalhou o velho. - Feia! isso não se diz.
- Tu sabes adivinhas, Rosa? - perguntou Daniel, rindo.
- Sei.
- Sim, senhor - corrigiu ainda outra vez o velho.
- Ora vamos lá a uma adivinha.
A pequena não se fez rogar.
- Então diga lá o que é esta:
Altos castelos
Verdes e amarelos
- Isso é decerto a casa de um brasileiro - respondeu Daniel.
A criança pregou-lhe uma risada, e, toda satisfeita, exclamou:
- Boa! É uma laranjeira.
- Ah! Ninguém havia de dizer. Vá lá outra.
- Que é, que é, que
Alto está, e alto mora,
Todos o vêem e ninguém o adora?
Daniel ergueu a cabeça, a fingir que meditava no enigma; viu que o pai da pequena lhe fazia não sei que sinal com o dedo.
Seguindo a direcção, que lhe pareceu indicada assim, Daniel parou a vista em um pinheiro longínquo, e disse:
- É um pinheiro.
Pai e filha deram uma risada.
- É um sino! - disse a pequena.
- Pois nem viu que eu apontava para a torre?
- E esta? - continuou a criança:
Mil marinhinhos, mil marinhões,
Dois parafitas e quatro chantões?
- Isso agora é que tem mais que se lhe diga! Que língua vem a ser essa? Marinhinhos e marinhões, e que mais? que mais?...
- É um boi, é um boi - respondeu a rapariga, a quem faltava a paciência para ver estar a pensar muito tempo.
- Um boi! sempre quero saber como é que isso é um boi. Mil marinhinhos, um boi?
- Mil marinhinhos, são os pêlos.
- Ah!... E mil marinhões?
- São os pêlos maiores - respondeu o pai.
- Dois parafitas são as gaitas - continuou a filha.
- Então, provavelmente, os quatro chantões.