Quando o vi lá, fiquei assustado. Enfim... com esta boa gente daqui entendo-me eu bem, mas, pobre cura de aldeia que sou há vinte anos, o que queres tu que eu possa dizer diante de gente instruída e ilustrada, como era o tal? Estive para desanimar, Margarida, olha que estive; mas disse comigo: Não, senhor, eu não devo recear. Não tenho lido muitos livros, é verdade; mas os Evangelhos leio-os todos os dias. Eles me ajudarão. Pois não tenho eu lá aquele sermão da montanha? E fui para a igreja e abri o S. Mateus e li: «Amai a vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.» Bastou-me isto e pus-me a falar, assim como te falo agora, Margarida. Achava-me à vontade. Pois sabes? - que é ao que eu trouxe isso - o tal homem de que eu me receava foi ter comigo à sacristia para me abraçar e disse-me: «Gostei de o ouvir; deram-me as suas palavras, por algum tempo, mais sãs consolações do que as minhas noites de estudo.» Ficou-me este dito do homem e pareceu-me que ele tinha consigo grande coisa a afligi-lo. Pensava de mais talvez. Corre-se até o risco de endoidecer. Nada, não tem jeito.
Margarida sorriu, assegurando ao reitor que evitaria esse perigo, fazendo por se distrair.
No decurso da conversa ulterior falou-se em Daniel. O padre aludiu à entrevista, que tinha tido com ele, e procurou atenuar a culpa do rapaz, expondo as ideias que lhe ouvira em relação ao casamento e à escolha de uma esposa.
O resultado de tudo quanto disse foi deixar Margarida mais pensativa do que antes.