Eu vejo que tem razão para duvidar de mim; mas será só isso? Porque não confessa também que recusa porque, sentindo insensível o coração, desconfia dele igualmente?
- Desconfiar do meu coração! - disse Margarida, com uma leve inflexão de ironia na voz, a qual os dois não perceberam, e continuou:
- Mas... é que não desconfio.
- Então?
- Conheço-o; e o que sei dele, como o que aprendi do seu, Sr. Daniel, levam-me a recusar.
- Quer dizer que me não pode amar?
- Sim... julgo que sim. Eu desconfio que nem tenho coração!
Eu sei lá! Não o sinto bater, pelo menos. Bem vê que não devo aceitar.
Adeus.
E, com um singular sorriso nos lábios, saiu da sala, onde ficaram os dois, atónitos e silenciosos.
Quem, naquele momento, pousasse a mão no coração de Margarida, como veria desmentidas as suas últimas palavras!