- Não, não. Sinto-me seguro desta vez a jurar-lhe...
- Não jure - atalhou o padre - não jure nada, homem de Deus, que almas de outra têmpera, que não é a sua, têm falhado, depois de jurarem. Lembre-se do que diz o Evangelho: «Seja o vosso falar: sim, sim; não, não. Porque tudo o que daqui passa, procede do mal» - Se não perder a ideia desse amor, trabalhe por merecêlo; mas não faça juras. Que, se alcançar aquele coração, grande riqueza granjeia, isso lhe afirmo eu. E não tenha escrúpulos de se deixar dominar, que melhor é a cabeça de Margarida, do que... Mas que fazemos ainda aqui? Vá, vá ter com seu irmão. E veja como se porta. Não entre em grandes explicações. Abrevie-as, quanto puder, que é o mais prudente. E até logo.
Daniel saiu da sala vagaroso e triste. O reitor, ficando só, conservou- se por algum tempo pensativo.
Esta tácita meditação acabou-a ele, murmurando não sei que mal distintas palavras e depois em tom mais perceptível:
- Contudo é pena. Remediava-se este enredo assim, e bem.
Seria talvez uma providência para o rapaz. E eu iria mais descansado deste mundo, a dar contas da minha tutela no outro aos pais das raparigas. Mas lá se Margarida tem os seus escrúpulos... e a falar a verdade com alguma razão; e depois, o que é mais e muito mais, se ela não se sente com inclinação para aí. Aquilo é uma santa. Coração possui ela, mas para caridade, que não para amores.
Paciência!
E falando assim, caminhava lentamente o reitor de sala em sala, de corredor em corredor, até se encontrar quase sem saber de que maneira - tão distraído ia - junto do quarto de Margarida, cuja porta viu meia aberta. Entrou.
Ao rumor de seus passos, ergueu-se, de súbito, uma mulher, que estava de joelhos no chão, e debruçada sobre o leito, como num genuflexório.