E ambas continuaram depois por o mesmo caminho.
- Então que doidices foram aquelas lá por casa? - perguntou Joana, que não era para rodeios e ia logo direita ao fim que tinha em vista. - Aquilo é coisa que se faça? Ainda se fosse consigo não me admirava eu tanto, mas com a Guida!
Clara ficou surpreendida, com o que ouviu a Joana. Margarida, para acalmar à irmã os escrúpulos em aceitar o sacrifício, dera-lhe a entender que, à excepção de Pedro, ninguém mais na aldeia suspeitava a cena do quintal. Agora adquiriu ela a certeza do contrário.
- Então você sabe?... - perguntou timidamente, não ousando olhar para Joana.
- Se eu sei! E quem o não há-de saber, filha, se por aí não se fala em outra coisa?
- Que diz, Joana?!
- Pois que cuidava? Ai, está bom, está! é o que eu digo! Aí tem que ontem... Mas a mim ainda me custa a crer!... pois a Guida?...
- Joana! por quem é, não fale dessa maneira. Se soubesse...
- Pois não falo, não... Ainda que de eu falar não é que vem o mal. Assim não andassem por aí outras línguas danadas...
- Então dizem?... Ó meu Deus! meu Deus!
- Dizem tudo, e mais alguma coisa; é o costume. Pois ainda aí está? Bem o digo eu!
- Jesus Senhor! E falam da Guida?!
- Que dúvida! Há lá manjar mais doce para estas boquinhas cá da terra, do que uma novidade daquelas? Falam dela, e de modo, que já me fizeram ferver o sangue. Olhe que estive para obrigar uma das tais a engolir a língua peçonhenta, a ver se a envenenava com ela. Ora imagine a Zefa da Graça a contar a história e veja lá o que não diria!
Clara ocultou o rosto com as mãos; a dor e a desesperação estavam- na torturando.
- E então o pior não é isso - continuava Joana. - O pior é que a essas desalmadas meteu-se-lhes em cabeça que as filhas corriam perigo, continuando a ser ensinadas por a sua irmã; e é de crer que já hoje.