- Sim, porque V.
S.a bem vê que, se eu estivesse no caso de poder fazer esmolas, de boa vontade.
- Quem lhas pede? - disse asperamente o velho padre, tomando o papel das mãos do credor, que falara assim. - Para pagar aos vampiros como você, é que se pedem esmolas aos outros; aos que têm coração. Aluguer de dois meses - olhem a grande coisa! Então é o que se lhe deve? Aí tem - acrescentou, contando- -lhe o dinheiro. - Não repare em ir quase todo em cobre; mas é dinheiro de esmolas e poucas se realizam em prata cá na terra.
- Mas, Sr. Reitor, eu não exijo de V. S.ª... eu confio...
- Leve isso daqui, homem! e saia você também, que me está inquietando o espírito.
O senhorio foi embolsando o dinheiro, insignificante preço de dois meses de aluguer daquele miserável casebre, e retirou-se, com uma cortesia profunda.
- Restam cento e dez - disse o pároco, vendo o dinheiro que lhe ficara. - Chegará para os remédios? - perguntou, olhando para Margarida.
Esta fez um gesto de dúvida.
- Nesse caso, eu vou falar com o boticário, que não é mau sujeito afinal; e hei-de resolvê-lo a esperar até amanhã. E de caminho, irei também visitar o filho do José das Dornas, que deve já ter chegado.
Estas últimas palavras não foram escutadas com indiferença por Margarida.
- O Sr.... Daniel chega hoje? - perguntou ela.
- Pelo menos o pai espera-o.
E acrescentou como para consigo:
- Agora para aí vem estabelecer-se o rapaz. Deus queira que ele sossegue daquela cabeça, que, segundo me informam, não tem sido lá das mais assentes. Vai tu para casa também, Margarida. O teu mestre fica mais sossegado e espero que dormirá. O que é preciso é mandar o recado ao João Semana para que o venha ver.
Acho-o muito abatido e mudado nos modos.