Do fabrico das velas, passou-se ao dos móveis de primeira necessidade. Aí, Pencroff orientava os trabalhos como verdadeiro mestre de marcenaria e carpintaria e, em breve, os compartimentos estavam guarnecidos de mesas, bancos, armários e cabeceiras para as camas de colchão de junça; nas prateleiras da cozinha, alinhavam-se as louças e utensílios de barro, ao lado do magnífico forno de tijolos e da pedra de lavar. Enfim, pode dizer-se que a ilha Lincoln, embora longe de completamente explorada, provia já a quase todas as necessidades da colónia. Mas de uma coisa sentiam os colonos grande falta: pão.
Certo dia - chovia torrencialmente lá fora - estavam todos reunidos na sala grande, quando, de repente, Harbert exclamou:
- Olha, olha, um grão de trigo!
- Um grão de trigo? - perguntou vivamente o engenheiro.
- Sim, sim, mas só um! Estava aqui na costura do meu casaco...
E o rapaz explicou que, em Richmond, costumava andar com trigo nas algibeiras para dar de comer aos pombos.
- Olha que grande descoberta, meu rapaz! - comentou Pencroff. - Para o que é que nos servirá um único grão de trigo?
- Para fazer pão - foi a resposta breve de Cyrus Smith.
- E porque não, também, tartes e bolos? - volveu o marinheiro, incrédulo.
O engenheiro pegou no grão e examinou-o atentamente.
Verificando que estava em bom estado, voltou-se para o marinheiro:
- Pencroff, você tem alguma ideia de quantas espigas de trigo pode dar um só grão?
- Uma, suponho eu.
- Dez, meu amigo! E sabe quantos grãos tem uma espiga? Oitenta, pelo menos. Ora bem, se semearmos este grãozinho, e ele medrar, colheremos oitocentos grãos que, por sua vez, produzirão seiscentos e quarenta mil e por aí fora... A proporção é esta! Os companheiros, pasmados, nem queriam acreditar.