Os nossos amigos caminhavam pela beira-mar, enquanto Top corria ao longo da floresta, farejando e buscando como era seu hábito, quando o marinheiro, sempre atento aos pormenores do mar, observou:
- Se algum navio arribasse a esta praia, era certo e sabido que se perdia! Olhem os bancos de areia e acolá os recifes... Que raio de sítio!
- Mas sempre ficariam destroços! - alvitrou o repórter.
- Qual quê! Só se nas rochas, que estas areias engolem tudo num abrir e fechar de olhos! Até o casco de um navio respondeu Pencroff.
Mas, apesar de procurarem por entre todas as rochas e recifes com que topavam, não acharam um único vestígio de naufrágio.
A meio da tarde, já relativamente perto do cabo da Garra, chegaram os colonos a um recorte pronunciado da costa, uma espécie de estreita enseada que formava, por assim dizer, um pequeno porto natural. A enseada, invisível do lado do mar, era rodeada por frondosa mata de pinheiros marítimos que subia suavemente em direcção ao planalto. Gedeão Spilett propôs que se fizesse ali uma paragem e todos concordaram de bom grado. A caminhada aguçara-lhes o apetite e, minutos depois, devoravam as provisões que Nab tirara da sacola. Depois do lanche, Cyrus Smith pegou no óculo e pôs-se a esquadrinhar atentamente, não só a linha do horizonte, como a parte do litoral que lhes faltava percorrer. Porém, não avistou coisa alguma... Nem sombra de navio no mar, nem um único destroço ou objecto suspeito em terra.
- Bem, pelos vistos resta-nos a consolação de ficarmos com a ilha Lincoln só para nós! - comentou Gedeão Spilett.
Mal esta frase fora dita, surgiu Top a correr, vindo da mata, com um pedaço de tecido preso na boca! Nab apressou-se a tirar-lhe o farrapo dos dentes e o cão desatou a ladrar, correndo para trás e para a frente como a pedir que o seguissem.