sabendo da sua impaciência pelo cativeiro, não hesitou Pencroff em abordá-lo sem grandes rodeios:
- Senhor Smith, é verdade que pretende fugir?
- Quando? - respondeu prontamente o engenheiro, vendo num relance a honestidade do homem que tinha à sua frente. E acrescentou:
- Mas quem é você?
Pencroff apresentou-se.
- Muito bem!- respondeu Cyrus Smith. - E como é que vamos fugir.
- Naquele balão paspalho que está acolá sem préstimo e que parece mesmo à nossa espera...
O marinheiro nem precisou de acabar a frase. O engenheiro pegou-lhe no braço e levou-o para casa. Uma vez lá chegados, Pencroff expôs o seu plano, que não podia ser mais simples. A única coisa que arriscavam era a vida. O furacão estava no auge, é verdade, mas um engenheiro hábil e audaz como Cyrus Smith saberia, certamente, conduzir o aeróstato...
Smith ouvia o marinheiro sem dizer palavra, de olhos a brilhar. Ali estava a ocasião tão desejada e ele não era homem para a deixar escapar. O plano era arriscado, logo exequível.
De noite, iludida a vigilância, aproximar-se-iam do balão, entrariam na barquinha, cortariam as cordas e... pronto! Mas, antes de continuarem, esclareceu:
- Não estou sozinho!
- E quantas pessoas quer levar? - perguntou o marinheiro.
- Duas: o meu amigo Spilett e Nab, o meu criado.
- Três, portanto - respondeu Pencroff. - Com o Harbert e eu, cinco! Ora o balão devia levar seis...
- Não é preciso dizer mais nada. Vamos! O jornalista, posto ao corrente do plano, aprovou-o sem reservas.
- Então, até logo à noite! - disse Pencroff. - Para não levantar suspeitas, ficamos por ali como simples curiosos. Às dez horas, na praça! E queira Deus que a tempestade não abrande até lá! - disse Cyrus Smith.
Pencroff despediu-se e foi ter com o jovem Harbert Brown.