- Rosa, por quem és, não me tortures mais com o teu silêncio; se és minha amiga, se me estimas como dizes, revela-me a verdade: esse homem que amaste, e que ainda amas, é Fernando, não é verdade?
- É... Perdão!... - respondeu a jovem com a voz abafada pelos soluços e caindo, extenuada por aquele esforço, sobre o leito.
A filha da baronesa, àquela afirmativa, empalideceu mortalmente: um frio de gelo percorreu-lhe todos os membros, e duas lágrimas rolaram-lhe pelas faces, duas lágrimas destiladas da mais acerba dor.
Passados os primeiros momentos de natural comoção, Rosa foi a primeira a interromper o silêncio, exclamando entre sufocado soluçar:
- Perdoe-me, Deolindinha, perdoe-me por quem e...
- De que me pedes perdão, minha pobre amiga? - exclamou a filha da baronesa com uma aparente serenidade. - Acaso não serei eu a mais culpada?... Olha minha Rosa, nós o que somos é muito desgraçadas; eu também lhe queria tanto como tu.
- Pois continue a amá-lo como até aqui, porque ele é bem digno do seu amor; despose-o, sejam felizes; da eternidade abençoarei essa união e pedirei a Deus por ambos.
- Que dizes, Rosa? Acaso enlouqueceste? Pois persuades-te que eu desposaria um homem que foi amado por outra a quem tornou tão desgraçada? Não penses nisso, minha boa amiga: ninguém mais do que tu tem o direito á sua mão, e deves possuí-la.
- Não diga isso, Deolindinha, que me martiriza. Que lucraria agora em recusar uma união que a deve tornar tão ditosa? Bem vê que são poucos os dias que me restam de vida, e forçar, com a sua recusa, Fernando a desposar um cadáver, seria na verdade uma indesculpável tirania. Além disso, Fernando nunca a tal acederia e isso ia decerto agravar a minha triste posição e dar lugar à propagação de um segredo que eu desejava que morresse comigo.