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Ainda bem não tinha terminado estas frases, quando um segundo tiro se fez ouvir, indo a bala ferir-lhe o ombro direito.
O revólver que sustinha na mão e se preparava para aperrar, caiu-lhe insensivelmente ao chão, e, como a égua estacasse de novo e se obstinasse em não avançar, o jovem apeou resolutamente, desvencilhou-se da capa, e, quando ia curvar-se para levantar a arma, partiu um terceiro tiro, indo a bala desta vez bater-lhe em cheio, no lado esquerdo do peito. O jovem tentou ainda suster-se, avançou alguns passos, mas caiu por fim, murmurando:
- Assassinos!
Passados momentos, os dois vultos acercaram-se do corpo que jazia inanimado, e um deles baixou-se a ouvir-lhe as palpitações do coração.
- Se ainda não está morto - exclamou ele - pouco faltará para isso; a bala creio que lhe foi direita ao coração: podes gabar-te da pontaria.
- Deixemo-nos de palavreado - respondeu o outro -; vê lá se ele tem alguma coisa que te faça conta, e vamo-nos embora daqui.
A estas palavras, o primeiro dos indivíduos baixou-se segunda vez e começou a despejar os bolsos da vítima, exclamando, à medida que ia tirando os objetos: relógio e cadeia... uma bolsa de prata com dinheiro, dois botões de camisa que me parecem de ouro... mais dois de punhos... uma carteira... um lenço de seda... e mais nada...
- Bem, aviemo-nos, antes que por aí venha alguém... Por compaixão, deixa-me cobri-lo com a capa, por causa da chuva.
- Sim, tens razão; pode constipar...
Coberto o corpo com a capa de oleado, os dois assassinos afastaram-se, internando-se pelo meio do arvoredo, e desapareceram poucos momentos depois.
A égua que Fernando montava, logo que se sentiu descavalgada, ou por instinto natural ou amedrontada pela detonação dos tiros, retrocedeu em desabrida carreira pelo caminho que trouxera e só parou próximo da herdade, onde começou a relinchar.