Ao vê-lo naquela desabrida carreira, dir-se-ia um louco fugindo à perseguição de algum suposto fantasma.
Em poucos momentos achou-se perto do pequeno bosque em que Fernando estava. Parou então, e, contendo o rumor dos seus passos e até a própria respiração, começou de novo a caminhar vagarosamente, parando afinal do outro lado da sebe formada pelos espinheiros, e dispondo-se a escutar e a ver tudo quanto se passava no sítio de que apenas o separava aquela pequena barreira.
Quanto a Rosa, à medida que se ia aproximando do lugar em que Fernando a esperava com viva ansiedade, os dois perdigueiros, conhecendo-a, cessaram os latidos, e, acostumados às suas carícias, correram para ela, saltando-lhe em derredor e lambendo-lhe as mãos.
Rosa, porém, tão aflita parecia estar, que, não dando pelas carícias dos pobres animais, nem sequer lhes dirigira um olhar de agradecimento.
Quando chegou perto de Fernando, o seu primeiro movimento foi lançar-se-lhe nos braços, derramando incessantes lágrimas. Era a primeira vez que a pobre rapariga se abandonava assim àquele a quem tanto amava, depreendendo-se desse facto o quanto sofria naquele momento e quão grande era a necessidade que sentia de um peito amigo em que desabafasse as mágoas que a alucinavam.
Fernando, sem atinar ainda com a causa de tantas angústias, cingiu-a ternamente ao coração, e, tentando sossegá-la, exclamou:
- Rosa, anjo da minha vida, que querem dizer essas lágrimas? Quais são os motivos de tantas angústias? Responde-me, conta-me tudo; e não me faças morrer de impaciência.
Rosa tentou responder, mas a voz morreu-lhe na garganta, e uma nova torrente de lágrimas lhe inundou as faces.
Fernando, cada vez mais comovido, continuou com voz meiga, afagando-lhe o rosto e enxugando-lhe as lágrimas:
Vamos, minha querida, não chores mais.