As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 24: XXIV Pág. 165 / 332

Um resultado tão curioso animou-o a prosseguir em observações análogas.

Preparava-se agora a contar as cabeças dos pregos, que via pelo tecto, porém, uma mosca importuna, teimando em pousar-lhe na testa, veio perturbá-lo neste ponderoso exame, e obrigou-o a desistir.

Por acaso, fitou então os olhos em uma espécie de mancha 156 escura, que estava na parede fronteira. Ao princípio, olhou-a distraído, mas, pouco a pouco, a atenção empenhara-se naquilo, como se em objecto de grande monta.

A distância não lhe permitia distinguir o que fosse.

- É uma nódoa de humidade decerto - disse Daniel consigo - ou não... é um insecto talvez... Mas não se move?... Seja o que for...

E desviou os olhos.

Daí a pouco estava outra vez a olhar para lá.

- É um insecto, é... mas tão imóvel!...

Não pôde deixar de soprar-lhe, ainda que sem probabilidade alguma de o atingir, pela distância a que lhe ficava.

A mancha negra não se moveu.

- Não é insecto - pensou Daniel.

E outra vez retirou a vista daquele ponto, para, passados instantes, a levar de novo lá.

- Mas a forma é de insecto...

E ergueu meio corpo e estendeu a cabeça para o sítio. Não pôde distinguir ainda o que fosse aquilo.

Tornou a deitar-se, simulando a resolução de se não importar mais com o problema.

Mas a curiosidade irritada subiu a ponto de o constranger a levantar-se. Aproximou-se então da mancha da parede, e viu que era uma mariposa escura, num daqueles estados de imobilidade, em que por tanto tempo se conservam às vezes. Daniel não resistiu à tentação de lhe tocar ao de leve nas asas; a mariposa fugiu.

Perseguindo-a, chegou até à janela.

Neste momento passava no pátio um dos mais velhos criados da quinta; Daniel chamou-o e mandou-o subir.





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