Daí a instantes, entrava-lhe o homem no quarto.
Daniel deitou-se e disse-lhe que falasse.
O criado não sabia em quê.
- No que quiseres; mas fala-me para aí.
O velho olhou para a janela, olhou para o ar, e disse:
- Temos vento; aquelas nuvens brancas costumam dar nisso.
- Tu sabes o que é o vento? - disse Daniel, espreguiçando-se.
- O vento? O vento é assim uma coisa... como... um assopro - respondeu o homem.
- És um asno. O vento é uma corrente de ar, produzida pela desigual distribuição da temperatura na atmosfera.
E Daniel, dizendo isto, entre dois bocejos, olhou para o criado, divertindo-se em estudar-lhe no rosto o efeito da definição científica.
O homem abriu a boca, sorrindo de dúvida.
- Mas aposto que o menino não me sabe dizer uma coisa?
- O quê? - perguntou Daniel, que estava a achar sabor ao diálogo.
- Donde vem o vento, e para onde vai?
Esta pergunta, análoga a outra que, ainda não há muito, se fez em lugar mais sério, embaraçou algum tanto Daniel.
- E tu sabes, António?
- Eu?! Não que nem nenhum matemático. E diga-me, sabe também o que são estes sinais que aparecem às vezes, como a semana passada?
- Que sinais?
- Pois não viu aquela noite da semana passada a Lua a sumir- -se, a sumir-se, que era uma coisa de estarrecer?
- Ai, isso era um eclipse.
- Um eclis? Pois seria um eclis, seria. Mas o que é que faz aquilo?
- É a Terra.
- Terra!
- A Terra, a Terra, a sombra da Terra, do Mundo.
- A sombra! Então... nós estamos debaixo e a Lua de cima, como lhe havemos de fazer sombra? Essa não é má!
Daniel, para se distrair, quis experimentar até que ponto podia fazer compreender a este homem a ideia do fenómeno físico em questão.