As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 24: XXIV Pág. 166 / 332

Daí a instantes, entrava-lhe o homem no quarto.

Daniel deitou-se e disse-lhe que falasse.

O criado não sabia em quê.

- No que quiseres; mas fala-me para aí.

O velho olhou para a janela, olhou para o ar, e disse:

- Temos vento; aquelas nuvens brancas costumam dar nisso.

- Tu sabes o que é o vento? - disse Daniel, espreguiçando-se.

- O vento? O vento é assim uma coisa... como... um assopro - respondeu o homem.

- És um asno. O vento é uma corrente de ar, produzida pela desigual distribuição da temperatura na atmosfera.

E Daniel, dizendo isto, entre dois bocejos, olhou para o criado, divertindo-se em estudar-lhe no rosto o efeito da definição científica.

O homem abriu a boca, sorrindo de dúvida.

- Mas aposto que o menino não me sabe dizer uma coisa?

- O quê? - perguntou Daniel, que estava a achar sabor ao diálogo.

- Donde vem o vento, e para onde vai?

Esta pergunta, análoga a outra que, ainda não há muito, se fez em lugar mais sério, embaraçou algum tanto Daniel.

- E tu sabes, António?

- Eu?! Não que nem nenhum matemático. E diga-me, sabe também o que são estes sinais que aparecem às vezes, como a semana passada?

- Que sinais?

- Pois não viu aquela noite da semana passada a Lua a sumir- -se, a sumir-se, que era uma coisa de estarrecer?

- Ai, isso era um eclipse.

- Um eclis? Pois seria um eclis, seria. Mas o que é que faz aquilo?

- É a Terra.

- Terra!

- A Terra, a Terra, a sombra da Terra, do Mundo.

- A sombra! Então... nós estamos debaixo e a Lua de cima, como lhe havemos de fazer sombra? Essa não é má!

Daniel, para se distrair, quis experimentar até que ponto podia fazer compreender a este homem a ideia do fenómeno físico em questão.





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