As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 25: XXV Pág. 176 / 332

Eu sou bastante leviano - conheço que o sou. - De ordinário não me canso muito a calcular consequências, antes de dar um passo qualquer. Caminho de olhos fechados em muitos actos da vida e sobretudo quando só eu lhes posso vir a sentir os efeitos maus. Mas há uma coisa em que não me costumo a pensar levianamente. É no casamento. Se um dia me vir casado...

- Rezarei a todos os santos por sua mulher? Estou certo que será bem preciso.

- Se um dia me vir casado, suponha que encontrei uma mulher, por quem sinto alguma coisa mais além do amor, por quem sinto o respeito e a confiança que se devem a uma mãe de família.

Não tenho sido muito escrupuloso em contrair certa ordem de ligações, é verdade; porém nunca me lembrei de fazer dessas mulheres que amei, nem quando a paixão me cegava mais, os anjos familiares a quem entregamos o nosso futuro inteiro. Neste sentido tem- -me espantado o arrojo de muitos. E não é isto tenção formada em mim contra o casamento; mas é que acho muito grave a missão de esposa e de mãe, para a entregar assim levianamente em quaisquer bonitas mãos, só porque são bonitas.

- Isso lá é verdade - disse o reitor, que não previa que nestas palavras aprovadoras assinava a sua capitulação.

Daniel, ainda que tivesse sido sincero no que dizia, não desestimou ver assim o reitor quase voltado para o seu lado, e prosseguiu com mais ardor:

- Ora quem quiser que tente fazer daquela menina, que sabe os verbos, uma boa mãe de família; eu por mim é que não farei a experiência. Era uma tremenda responsabilidade que tomava para com meus futuros filhos.

- Não, não vamos também agora a fazer da pequena pior do que ela é - observou o reitor. - A cabeça é um pouco estouvada, sim, mas o fundo é bom, e passados anos.





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