Daniel tinha já os pés no pavimento.
- Uma reparação? Porquê?... A quem?...
- Olhem que inocência! Precisa talvez que eu lhe responda?
- E que espécie de reparação hei-de eu...?
- A única devida a uma rapariga a quem...
- A quem?...
- Cuja boa fama se perdeu!
- Então acusam-me de ter perdido a boa fama daquela menina e querem-me constranger talvez a casar com ela? - exclamou Daniel sobressaltado e pondo-se a pé num ímpeto, como se o picasse uma víbora.
- Quem mais o constrangerá, há-de ser a sua consciência, se ainda não emudeceu de todo em si.
- Não constrange, não. Não me julgo moralmente obrigado a reparação de qualidade alguma. A menina Francisca... tem uma cabeça... bonita na verdade, realmente bonita...
- Está bom, está bom. Que tenho eu com essas bonitezas? Isso não vem agora a nada.
- Bonita, digo eu, mas leve, leve como uma bola de sabão - continuou Daniel.
- É defeito de muita gente.
- Acheia-a triste, tão triste por ser trigueira... veja que doidice aquela!... que entendi... - não entraria isso nos meus deveres de médico? - entendi que a devia curar. Ora pensando que para esse efeito mais valeria um galanteio, do que todas as drogas medicinais...
- Então, então... - disse o reitor, um pouco despeitado com o tom leviano de Daniel - deu agora em gracejar comigo?
- Não gracejo. É que realmente o meu procedimento... não digo que fosse de uma sisudez exemplar, mas não merece as cores negras com que lho pintaram, nem reclama as medidas extremas e violentas que me propõem. Um casamento impossível!
- Impossível! O que aí vai! Não o fazia tão fidalgo! Com que então...
- Olhe, Sr. Reitor - disse Daniel, tomando um ar mais sério - vou falar-lhe com toda a sinceridade.