As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 25: XXV Pág. 175 / 332

Daniel tinha já os pés no pavimento.

- Uma reparação? Porquê?... A quem?...

- Olhem que inocência! Precisa talvez que eu lhe responda?

- E que espécie de reparação hei-de eu...?

- A única devida a uma rapariga a quem...

- A quem?...

- Cuja boa fama se perdeu!

- Então acusam-me de ter perdido a boa fama daquela menina e querem-me constranger talvez a casar com ela? - exclamou Daniel sobressaltado e pondo-se a pé num ímpeto, como se o picasse uma víbora.

- Quem mais o constrangerá, há-de ser a sua consciência, se ainda não emudeceu de todo em si.

- Não constrange, não. Não me julgo moralmente obrigado a reparação de qualidade alguma. A menina Francisca... tem uma cabeça... bonita na verdade, realmente bonita...

- Está bom, está bom. Que tenho eu com essas bonitezas? Isso não vem agora a nada.

- Bonita, digo eu, mas leve, leve como uma bola de sabão - continuou Daniel.

- É defeito de muita gente.

- Acheia-a triste, tão triste por ser trigueira... veja que doidice aquela!... que entendi... - não entraria isso nos meus deveres de médico? - entendi que a devia curar. Ora pensando que para esse efeito mais valeria um galanteio, do que todas as drogas medicinais...

- Então, então... - disse o reitor, um pouco despeitado com o tom leviano de Daniel - deu agora em gracejar comigo?

- Não gracejo. É que realmente o meu procedimento... não digo que fosse de uma sisudez exemplar, mas não merece as cores negras com que lho pintaram, nem reclama as medidas extremas e violentas que me propõem. Um casamento impossível!

- Impossível! O que aí vai! Não o fazia tão fidalgo! Com que então...

- Olhe, Sr. Reitor - disse Daniel, tomando um ar mais sério - vou falar-lhe com toda a sinceridade.





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