As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 27: XXVII Pág. 190 / 332

.. há pouco... foi depois que veio aquela mulher... E que me disse ela? Tudo que lhe ouvi não era para isto. Não, decerto. Afinal que tenho em com...

Aqui, o pensamento quebrou o jugo que o constrangera a seguir o caminho estreito da reflexão e entregou-se insofrido à mais extravagante carreira.

Na posição e nos gestos de Margarida nada acusava a revolução mental que se operara; mas, instantes depois, ela murmurava já:

- Quem sabe se aquela rapariga?... Mas, não, não pode ser... E ele? Que mudança traz o tempo! Eu não sei como são certas memórias também... Mas que admira? A vida de cidade... Quem havia de pensar?... Parece-me que ainda o estou a ver, quando ele era criança, e vinha... Dez anos!

Absorvida em pensamentos desta ordem a veio encontrar o reitor, que raro deixava de visitar as suas pupilas.

- Em que cismas tu, rapariga? - disse-lhe o padre. - Santo Nome de Jesus! não posso atinar o que tanto tens para cismar.

Nem que te pesassem aos ombros grandes canseiras de família!

Deita o coração ao largo. Não vês a Clarita? Faze assim como ela.

Lembra-te que tens vinte e três anos. Aos sessenta é que é natural pensar assim.

Margarida beijou-lhe a mão, dizendo-lhe:

- Isto julgo que nem é pensar. É quase um esquecimento de tudo e de nós mesmos em que às vezes se cai. Mas faz bem em ralhar comigo, Sr. Reitor, faz muito bem. Este costume é mau. É quase uma doença, da qual hei-de ver se me curo.

- E tens juízo. Olha, minha filha, isto de pensar muito...

Enfim, o Senhor para isso nos deu a razão, mas... Queres tu saber?

Um dia veio aqui um homem que, pelo modos, é um grande sábio, um destes filósofos da cidade. Era domingo e eu tinha de fazer a minha prática. O tal sujeito foi para a igreja.





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