. Suspeitava a verdade. 
- Mas ele.. 
- Ele.. Pedro? Nada sabe ainda. 
- Nada sabe! Queres enganar-me, Margarida? Pois não surpreendeu ele o... outro, quando... 
- Mas ignora que fosses tu... 
- Então quem julga que era? 
Margarida calou-se embaraçada, e desviou a vista do olhar fixo da irmã. 
- Não sei, mas... tenho a certeza de que ele não suspeita já de ti... E sabes? é preciso fazer agora por te levantares e alegrares-te para que, se ele vier por aí, não conheça, ao ver o estado em que estás, a verdade, ou suspeite mais do que a verdade, que é ainda muito pior. Vamos; veste-te; foi uma nuvem a de ontem; uma nuvem que passou. Hoje está um sol tão vivo - acrescentou, abrindo as portas das janelas - que dá força e alegria. Vê. Ora anda, levanta-te. 
Enquanto Margarida assim falava, Clara parecia engolfada em profunda abstracção. Afinal, como se nada tivesse percebido de quanto ultimamente Margarida lhe dissera, exclamou com vivacidade: 
- Guida, eu quero saber como isto é. Pedro soube que estava uma mulher ontem à noite no jardim. Se, como dizes, ele não suspeita de mim, de quem pode pois suspeitar? 
Margarida não respondeu e baixou os olhos perturbada. 
- Guida, Diz-me a verdade - continuou Clara mais inquieta já. - Pedro julga-me inocente? 
- Julga. 
- Quem é pois a seus olhos a culpada? 
A confusão de Margarida serviu de resposta. 
De pálidas que estavam, tingiram-se então de um rubor de indignação as faces de Clara. Meia erguida no leito, os olhos animados, os lábios trémulos, exclamou: 
- Ele suspeita de ti! De ti! Margarida? Pedro suspeitar de ti! E pôde ter um pensamento... e pôde imaginar que tu serias... Atreveu- se a acusar-te! Ele? Pedro! Mas, Diz-me, Guida, Diz-me. 
Como fez ele isso? Quem lhe deu esse direito? 
- Fui eu.