Foi então que Margarida correu, que a arrastou nos braços para longe daquele sítio, e depois, sacrificando a sua reputação ao futuro da irmã, veio aos pés de Pedro, como a verdadeira culpada.
O conceito que Pedro formava do carácter de Margarida não o tinha deixado imaginar sequer que pudesse ser ela a que aceitara a entrevista com o irmão. Apesar de todo o seu amor por Clara, era maior ainda a confiança que depositava em Margarida.
O que viu depois espantou-o, mas deu-lhe grande alívio.
Clara ignorou tudo quanto ultimamente se passara, pois, durante todo esse tempo, não recuperara os sentidos. A noite toda levou-a num quase delírio, no qual imaginava ver Pedro e Daniel, travando uma luta fratricida.
Margarida, velando à cabeceira da doente, torcia as mãos de desespero.
- Meu Deus! meu Deus! - dizia ela. - Se lhe não passa este delírio, tudo está perdido. Pedro saberá a verdade.
Pela madrugada, porém, Clara sossegou; um sono reparador acalmou-lhe a febre e, após ele, só lhe ficou o abatimento e a palidez geral, que denunciavam a crise terrível que tinha vencido.
Margarida, ao despertar do sono, também inquieto, por que mal passara, encontrou-a acordada e já aparentemente tranquila.
Receando renovar-lhe a crise, em nada lhe falou. Clara olhava-a em silêncio, mas como que não ousava também interrogá-la.
Afinal fez um esforço, fitou na irmã os olhos, arrasados de lágrimas, e disse com desalento:
- Tudo está acabado! De hoje em diante, todos me apontarão ao dedo e me chamarão uma rapariga perdida.
Margarida não pôde também reprimir as lágrimas.
- Que estas a dizer, Clarinha? Foi mau o passo que deste, foi; mas sossega. Eu que te ouvi, sei que estás inocente.
- Ouviste?
- Tudo. Eu sabia.