- Mas, Margarida, quem lhe disse que é por compaixão que eu lhe faço o oferecimento? Se o aceitar, creia que o agradecido serei eu.
- Se essas palavras fossem sinceras, Sr. Daniel, era bem certo então que possuía um desgraçado carácter! Receie sempre de si, desses primeiros movimentos, a que obedece tão depressa. Já que é tão fácil em mudar, ao menos faça por ser mais forte contra si mesmo. Vença-se. Não está ainda vendo o mal que pode fazer assim?
- Tem razão em duvidar de mim. O meu passado condena-me, porém talvez seja injusta de mais para comigo. Julga-me capaz de...
- Perdão; não julgo, não tenho direito para julgar, bem sei. Em todo o caso, não posso aceitar.
- Margarida! - disseram a um tempo o padre e Daniel.
- Não, não posso aceitar - repetiu Margarida, já com maior veemência. - Nunca me julgaria mais desonrada e perdida, do que quando aceitasse uma proposta como essa, feita por outro qualquer motivo, que não fosse a força do coração.
- Mas se eu lhe juro que o meu coração...
- Oh, não diga mais! - disse Margarida interrompendo-o. - Até me faz mal ouvir-lhe esses juramentos; lembra-me os que ainda ontem fazia a Clara. Repare no que ia a dizer; assim abre o coração, a quem, momentos antes, nem conhecia sequer?
- Não há tal - disse o reitor - dize tu que, desde criança, já te conhece ele, e até...
- Oh! por quem é! - atalhou Margarida que previu logo onde o reitor queria chegar. - Por quem é! O que ia a dizer?
- Margarida - continuou Daniel - perdoe se a consciência das minhas culpas... e acredite que a estou sentindo bem amarga, mas perdoe-me se ela me não constrange ainda ao silêncio.