- Que lhe hás-de tu dizer?
- Qualquer coisa... o que me lembrar. Dir-lhe-ei que estou cansada desta vida afinal; que lhe dou agora razão... e que aceitarei... a... caridade... de minha irmã.
E a estas palavras a comoção dominava outra vez Margarida.
- A caridade! Quem fala de receber caridades? Tu, que foste pródiga de benefícios? tu, que te despojaste da tua capa para cobrires com ela os ombros nus de tua irmã? Ai, Margarida, que é isso menos abnegação, que orgulho já. Não, desta vez não cederei. Vem, filha, vem comigo.
- Eu?! Aonde?...
- Vem; encosta-te ao meu braço. Quero ver agora quem se atreve a murmurar daquela que passa apoiada ao braço do seu reitor.
Sempre quero ver.
- Não me obrigue.
- Vem, Margarida; tens os pobres do costume a visitar e entre eles... e até, se queres ainda despedir-te de teu mestre, não deves adiar a tua visita, porque...
- Pois está pior?!
- Está próximo a obter o alívio de todos os seus males. Ora então vem, e veremos se eles também... se essa pobre gente, que socorres, recusa a esmola, que lhe ofereces, as consolações que lhe sabes dar.
- Mas... Jesus, meu Deus! não sei se terei forças agora...
- Pede-as à consciência. Ela tas dará. Não me recuses o que te peço, Margarida; ou então Clara saberá tudo. Eu te prometo que isso não fica assim como está.
O pároco mostrou-se desta vez exigente. Margarida cedeu às reiteradas insistências dele.
Passados momentos iam ambos silenciosos pelos caminhos da aldeia.
A apreensão, de que se possuíra Margarida, fazia-lhe vacilar os passos. Teve de segurar-se por isso ao braço do seu velho amigo e protector.
Chegaram assim ao largo, onde morava o enfermo.