À sombra das árvores brincava, a saltar e a dançar, um bando de crianças, a cujas vozes joviais respondiam da copa da alameda os gorjeios das aves escondidas.
As crianças, ao verem aproximar-se Margarida, mestra de quase todas, correram, soltando gritos de alegria, a beijar-lhe a mão.
As mães, porém, que estavam sentadas, fiando e conversando, nas soleiras das casas, que circundavam o largo, obrigaram-as a parar a meio caminho.
- Vem cá, Luísa! - bradou uma delas.
- Ó Maria, onde vais tu? - Para aqui, já; corra! exclamava outra.
- Ó Ana, ó Ana! então isso é o que eu te disse? Salte para casa.
Ande!
- Ó Ermelinda, não ouves? Não ouves, Ermelinda? Olha se queres que eu vá lá?
E no mesmo sentido partiram de todos os lados vozes, que constrangeram as crianças a pararem irresolutas.
A significação injuriosa daquelas palavras, daquelas ordens maternas, foi logo compreendida por Margarida e por o reitor.
Aquela tremeu e instintivamente apertou o braço do seu velho tutor; este tremia também, mas de indignação.
- Olá! - bradou ele, não lhe sofrendo o ânimo mais reservas - olá, Luísa, Maria, Ermelinda, Ana - aqui já, já, todas aqui já!
- Então, não ouvem?
As crianças aproximaram-se tímidas. Ele continuou, com voz rija e alterada pela cólera:
- Já que as vossas mães vos ensinam a ser desobedientes e malcriadas, aqui estou eu para vos dar a educação. Beijem a mão à sua mestra, já. Ouvem-me?
- Senhor! - murmurou Margarida.
- Deixa-me - respondeu o reitor, desabridamente. - Então, vamos!
As crianças tomaram a mão de Margarida e beijaram-na com timidez. Margarida abraçou-as, soluçando.
- E vocês lá! - continuou o padre, dirigindo-se às mães. - Tudo a pé! Que modos são esses de estar diante do seu Reitor?!
As mulheres levantaram-se respeitosas e mudas.