O Retrato de Ricardina - Cap. 16: CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! Pág. 108 / 178

O Sr.

Abade respeitará Vossas Senhorias; e aos pobres padres filhos de lavrador é capaz de os fazer em postas. E que gente ele lá tem azada para o efeito! O Rolhas, e o Cambado de Midões, não falando no Norberto Calvo, que é capaz de dar um tiro no nosso Senhor Jesus Cristo!

Ricardina levantou os olhos contra o padre, e abaixou-os sustendo a custo o impulso que a instigava a defender o protetor de Bernardo. Eugénia, ouvidas as explicações, olhou para Luís Pimentel.

- Bem. Queira entrar, prima Ricardina - disse ele. - Depois veremos o que há de fazer-se no seu benefício.

O padre deu de esporas, contente do desempeço da desonesta. Eugénia tomou o braço da irmã e conduziu-a a uma saleta, onde Luís as seguiu.

- Como estava a prima Ricardina em casa de Silvestre? Nós pensávamos que tivesse ido para Coimbra... - disse Pimentel.

- Vim de Coimbra antes de ontem - respondeu a cunhada.

- Com Bernardo Moniz?

- Não.

- Seria certo, como dizem, ser ele um dos assassinos dos lentes?

- É mentira.

- Mas há ordem de prisão em Viseu para ele e para os irmãos.

Ricardina rompeu em choro desfeito, pedindo ao primo que lhe soubesse alguma coisa de Bernardo.

- Mas ele está na casa da Fonte? - perguntou o primo.

- Sim, está.

- E quando chegou?

- Antes de ontem à noite.

- A prima está casada com ele?

- Ainda não - respondeu Ricardina.

- É admirável!... - disse Luís. - Um homem de tal nascimento que esperava? A Sr.ª D. Ricardina estaria no caso de ser a manceba de um filho de Silvestre da Fonte?! Agora compreendo o motivo da vingança do seu pai.... O que Bernardo imediatamente devia fazer, se fosse homem de tino e de coração, era, à custa de muitos contos de réis, casar-se com a senhora, para evitar desgraças e escândalos; ir a Roma, se fosse necessário, e pedir ao Santo Padre que os casasse.





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