O Retrato de Ricardina - Cap. 20: CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO Pág. 130 / 178

Esclarecê-lo era fomentar-lhe dores e vergonhas não sabidas, sem compensação de mínimas vantagens.

Cursava Alexandre o 4º ano, quando o condiscípulo de Viseu lhe contou que a mãe da viscondessa morrera de saudades de Matilde, porque o visconde a levara para Lisboa, dizendo que a filha do famigerado abade de Espinho não podia ser boa mãe.

- Mas quem era esse abade de Espinho?! - perguntou Alexandre. - Tu contas-me essas tragédias como se eu fosse lá da tua romântica Beira, que me parece uma Calábria!

- O abade de Espinho - explicou Osório - era um salteador famoso, um incendiário cruelíssimo, um assassino professo, que morreu em Roma, para onde emigrou antes que o espostejassem os liberais. Este abade era, enfim, o avô da viscondessa. Já entendes?

- Entendo. Contam-se tais maravilhas da tua província, que Frederico Soulié, se lá viesse, havia de pensar que Os Dois Cadáveres são um idílio bom para despertar nas raparigas o amor às boninas do monte!

D. Ricardina, que escutara o diálogo, enxugou as lágrimas assim que ouviu os passos do filho.

- A mãe chorava?! - notou Alexandre, remirando-lhe os olhos mal enxutos.

- Chorei, Alexandre... Ouvi lá dentro o teu amigo contar-te que morreu de saudades da sua filha uma pobre mãe... Só compreende bem essa mortal angústia quem for mãe como eu!

- Ah! A mãe escuta o que se diz no meu quarto? - volveu o jovem sorrindo. - Então já sabe também que eu tenho os meus namoros...

- Os teus livrinhos, meu filho.

- Não terei eu coração, ó mãe? - perguntou Alexandre, sorrindo ainda com a mão no peito.

- Se tens, meu amor! Tinhas, se a tua mãe to não roubasse... Sabe Deus quanto me custa ver que foges de mim para os livros... - respondeu ela graciosamente, beliscando-lhe o pavilhão da orelha.





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